Os parques para cães, conhecidos aqui no Brasil como parcães, tiveram início nos Estados Unidos. A origem, pelo que pesquisei na Internet, deu-se no norte da Califórnia, em Berkeley, cidade localizada na costa leste da baía de São Francisco. Há algumas décadas estavam construindo um novo sistema viário por lá, e, com isso, muitos edifícios que serviam de obstáculo foram derrubados. As obras que viabilizaram as novas avenidas deixaram montes de terra numa área vazia, que passou a ser conhecida pelos moradores locais como “Espaço Verde”. Os planos de desenvolvimento para essa área foram suspensos quando ativistas a ocuparam e apelidaram a faixa, dessa vez, de “Anexo do Parque do Povo”.
Em 1979, um grupo de moradores reuniu-se para declarar aquela área um parque para cães. O que começou como um experimento foi oficializado em 1983, e a organização sem fins lucrativos Ohlone Dog Park Association (ODPA) foi criada para ajudar a mantê-la. Um hidrante diferenciado no parque é dedicado a Doris Richards, a diretora ODPA mais antiga, e há uma placa em homenagem a Martha Scott Benedict, a líder dos fundadores.
O sucesso do primeiro parcão americano foi tão grande que a notícia sobre a sua existência se espalhou rapidamente para outras cidades americanas, e o intercâmbio, por cartas e telefonemas, entre as pessoas interessadas em implantar estruturas semelhantes e as criadoras do parcão de Berkeley foi intenso. Resultado: o modelo inicial foi copiado em várias partes do mundo. Só nos EUA havia, em 2010, 569 parcães nas 100 maiores cidades dos EUA, um salto de 34% em 5 anos, enquanto os parques gerais aumentaram apenas 3%. Ressalte-se que há, na atualidade, mais famílias americanas com cães do que com crianças (43 milhões e 38 milhões, respectivamente).
Os parcães são excelentes para ajudar no exercício rotineiro e na socialização da espécie canina, mas também ajudam muito os Homo sapiens. Estudos têm mostrado que as pessoas acham mais fácil conversar umas com as outras com os animais como foco inicial, quebrando as barreiras sociais usuais que fazem as pessoas perceberem os outros como estranhos.
Luiza Cervenka de Assis, bióloga com mestrado em psicobiologia e pós-graduação em jornalismo, na coluna Comportamento Animal do Estadão deu várias dicas sobre como nos comportarmos (sim, as pessoas!) em um parcão, inclusive alerta para a nossa falta de atenção e incompreensão da linguagem dos cães. Segundo Luiza, deixá-los sozinhos enquanto vamos ler, passear e/ou paquerar podem acarretar alguns problemas, que vão desde o cocô que ninguém recolhe até confusões e brigas. “Bastam alguns segundos”, ressalta a bióloga, “para o caos canino ser instaurado”.
Para quem quer se aprofundar no tema, há um livro abrangente que traz informações relevantes sobre como construir parques caninos para municípios e grupos privados. Chama-se “So You Want to Build a Dog Park” (Tradução: então você quer construir um parque para cães), que estava na 8ª edição quando fiz a pesquisa bibliográfica para escrever esta matéria. É composto por 23 capítulos, totalizando 569 páginas, e trata de várias questões que se devem levar em consideração ao implantar um parque para cães: projeto, instalações, cercas, drenagem, caminhos, controle de pragas, paisagismo, estacionamento, coleiras, regras e regulamentos, isenções e liberação de responsabilidade, seguro privado de cães, ordenanças locais, etc.
Em tempo: As imagens dos cães que ilustram esta postagem foram feitas por mim num parcão existente em Copacabana, na Praça do Lido, Município do Rio de Janeiro/RJ.